Aumento dos índices de desemprego, queda no faturamento de todas as atividades econômicas, dificuldades no acesso ao crédito para capital de giro e o fechamento de empresas. Infelizmente esse é o cenário catarinense em função da crise econômica provocada pela pandemia do novo Coronavírus. Nesta semana, com o objetivo de identificar os desafios do setor empresarial e propor alternativas para a manutenção das atividades, o Sebrae/SC, a Fiesc e a Fecomércio divulgaram a 3ª edição da pesquisa que apresenta os impactos da pandemia na economia do Estado.
Os resultados foram analisados, nesta quinta-feira (14), durante reunião virtual com representantes de entidades empresarias da região oeste. Participaram da live o diretor técnico do Sebrae/SC Luc Pinheiro, a gerente de mercado do Sebrae/SC Soraya Tonelli, além dos gerentes regionais do Sebrae/SC, dos representantes de Associações Comerciais e das Câmaras de Dirigentes Lojistas do meio oeste, oeste e extremo oeste do Estado e de profissionais da imprensa regional.
ANÁLISE DA PESQUISA
O presidente da Associação Comercial e Industrial de Chapecó (ACIC), Nelson Akimoto, afirma que a pesquisa apresenta um cenário de uma grande crise econômica, que anuncia sérios problemas sociais pelo número de demissões registradas. “É difícil prever quando tudo isso vai passar, mas precisamos desde já pensar e agir para uma retomada imediata. Precisamos de um cenário que permita a sobrevivência dos negócios, salvando um CNPJ se salva muitos CPF´s. O acesso ao crédito é o ‘oxigênio’ que o mercado precisa, o ‘alimento’ é o conhecimento que descobre oportunidades na crise”, enfatiza Akimoto.
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Chapecó, Clóvis Afonso Spohr, a pesquisa reforça a crise sentida pelo setor e agrava a preocupação dos trabalhadores. “Os números estão numa crescente negativa maior que imaginávamos. A situação está se transformando em outra pandemia, a da falta de trabalho”, analisa.
Spohr destaca que os dados revelam uma realidade assustadora e afirma que as incertezas em relação ao futuro têm deixado empresários e funcionários apreensivos. “A situação é muito preocupante, especialmente por não sabermos de fato o que teremos lá na frente. O número de trabalhadores com contrato suspenso e com redução de salário pode agravar o quantitativo de demissões. Ou seja, podemos ter um contingente muito maior de desempregados”, projeta.
Em relação às linhas de crédito para auxiliar o setor, o presidente cita a necessidade de mais ações efetivas dos Governos. “O setor produtivo precisa ser socorrido pelos governantes. Precisamos definitivamente de ajuda, não tem outra maneira de superarmos. A gente sabe que não há culpados para a crise, mas as vítimas estão sendo todos os cidadãos”.
De acordo com o presidente do Centro Empresarial Chapecó (CEC), Cidnei Barozzi, os resultados da pesquisa são preocupantes em vista do elevado número de 530 mil demissões no Estado e de 114 mil empresas inoperantes, o que mostra as dificuldades enfrentadas pelo setor produtivo diante dos reflexos da crise do Coronavírus.
Barozzi enfatiza que essas consequências, juntamente com os efeitos na saúde pública, abrangem pequenas, médias e grandes empresas indistintamente e levam também às preocupações pós-Covid-19. “Este é um momento de enfrentamento muito especial quanto à preservação da saúde, mas paralelamente a isso precisamos também nos preocupar sobre o que será feito depois de debelada a pandemia. É certo que já foram tomadas medidas do ponto de vista da economia, mas a perspectiva que temos, com base em indicativos de instituições renomadas, é de uma recessão significativa neste ano, na faixa dos 5% a 6%. Daí, ao mesmo tempo em que tratamos convenientemente a saúde, precisamos prever o que fazer para preservar emprego e renda”, avalia.
Segundo o presidente do Sindicato do Comércio da Região de Chapecó (Sicom), Ricardo Urbancic, os números da pesquisa são impactantes e demonstram redução sem precedentes da atividade econômica, com o fechamento de empresas e a diminuição dos empregos que demorarão muito para ser repostos. “Essa situação irá demorar para ser revertida, pois após a pandemia ser controlada o tempo será longo para a reabertura de empresas, o reestabelecimento dos negócios e a possível recontratação de funcionários. Ou seja, se os números são preocupantes agora, indicam cenário ainda mais difícil no futuro”, enfatiza.
Urbancic comenta que para o enfrentamento do quadro indicado pela pesquisa, na economia, a desburocratização e a simplificação de regras permitem maior agilidade, o que agora é fundamental. “A oferta de crédito deve ocorrer com juros decentes para superar este momento difícil sem comprometer as empresas num futuro próximo. É impraticável a taxa Selic a 3% ao ano e juros para as empresas a 0,89% ao mês. O Governo tem que fazer chegar aos empresários linhas de crédito muito próximas à Selic e com período de carência para iniciar os pagamentos de, no mínimo, seis meses”, argumenta.
Com relação à saúde pública, Urbancic expõem que cabe ao Governo fornecer o que se comprometeu: leitos de hospital (UTI e enfermaria) para atender os casos necessários. “O Governo cria uma série de regras para a população e a iniciativa privada. Deve, então, cumprir com a sua parte”, finaliza.
PESQUISA
Para a pesquisa, foram ouvidos 2.547 empresários, de todas as regiões de Santa Catarina, entre os dias 4 e 6 de maio. A margem de erro é de 1.9 ponto percentual para mais ou para menos. Em Chapecó, entidades auxiliaram na realização da pesquisa: ACIC, CDL Chapecó, CEC e Sicom.
De acordo com a sondagem, que analisou o universo dos pequenos negócios e das médias e grandes empresas, cerca de 530 mil pessoas perderam seus empregos desde o início da crise provocada pela pandemia da Covid-19. Em relação às demissões, 41,4% dos entrevistados afirmam ter demitido desde o início da crise. Na última medição, feita em abril, o percentual era de 34,45%.
Essa edição da pesquisa também ouviu os empresários sobre a adoção das medidas previstas na MP 936/20. A suspensão temporária do contrato de trabalho foi adotada por 24,7% das empresas, e a redução proporcional da jornada de trabalho e salários foi adotada por 22% das empresas catarinenses. Com isso, 408 mil catarinenses estão em regime de suspensão do contrato de trabalho e 462 mil tiveram a sua jornada de trabalho e salário reduzidos.
Em relação ao faturamento, 91,3% dos entrevistados apontam queda nas vendas internas, e dos que exportam, 73,9%. A perda total de faturamento representa 56,5% total do esperado para o período. Estima-se que a perda total de faturamento das empresas catarinenses já soma R$ 16,2 bilhões.
O momento crítico faz com que muitas empresas busquem crédito para se manterem ativas. A pesquisa apontou que desde o início da crise, 49,2% dos empresários buscaram crédito, porém somente três em cada dez tiveram acesso. Dos que não tomaram crédito, 34,2% alegaram juros altos, 31,1% falta de linhas para o seu perfil empresarial, 29,9% falta de garantia e 9,6% falta de avalista.